20 de julho de 2008

51º Post - Admirável Mundo Novo

Dois anos...

Há dois anos eu era um adolescente sonhador, deprimido, carente, esperançoso, vivendo uma vida dupla, que em parte, se tornou tripla: a vida para meus familiares, a vida para meus amigos héteros e a vida para meus amigos gays. Nunca tive problemas em aceitar ser gay, mas houve momentos em que essas três partes não cabiam em uma. De certa forma, o blog alivia tal pressão.

E por que eu criei o blog? Não lembro ao certo; acho que para encontrar meu lugar no mundo e ver que minhas ações podem mudar o curso de alguma história. Ou talvez deixar meu testemunho, a minha versão dos fatos, para mais tarde tentar "ligar as duas pontas da vida" e poder viver em paz com meu passado. Deixar meu legado, dizendo: "Sim, eu tentei o certo, sim!, talvez tenha fracassado... Se errei, admito, foi tentando fazer o que podia."

Seria a minha versão, a minha história, meus erros e acertos. Tudo bem que parte delas foram esquecidas nas profundezas da depressão que me assola frequentemente, porém o essencial está escrito, não da maneira pretendida ou fiel à realidade, mas que ligará para isso?


Continuo sonhador deprimido, carente e ainda mais esperançoso, embora eu veja que esperar não me levará a nada. O que fazer? O que fazer se sonhos se tornam areia, se ações são deliberadas, se o destino sempre me prega uma peça ali, bem ali depois da esquina? Continuar? Sim, essa seria uma das escolhas. Ou mudar? "Sofrer as dores dos parto"? Nascer novamente, mudar meu jeito de ser: ser mais receptivo com as pessoas, ser mais amável, menos arisco, mais humano. Mas eu continuaria a ser o que sou? Eis a questão. Uma questão cuja resposta provavelmente será não. Se hoje sou o contrário do que gostaria, é porque as circunstâncias não foram as planejadas, a vida não me mostrou o caminho certo. Perderia meu âmago, e seria mais uma tentativa entre tantas de ser feliz.

Felicidade... Eita palavrinha enganosa. Se não, pelo menos é necessário tristeza para que ela exista. Acho que o que sempre fiz foi sentir o máximo de dor, para depois sentir o máximo de alegria. Um ciclo vicioso, em que as amplitudes da minha montanha-russa aumentam exponencialmente. Onde chegarei? Em algum lugar, certamente.


Dois anos...

Me sinto um velho dizendo essas palavras. Parece que foi tão rápido: antes eu tinha 15 anos; agora 17. Antes eu estava no primeiro ano do colegial; agora estou num cursinho para entrar na faculdade. Antes, sempre o antes, eu morava numa pequena cidade do interior de São Paulo, pequena, pacata, homfóbica; agora, morando em São Paulo! Olhem o progresso...

Será verdade? Homofobia sempre irei encontrar. Mas será que minha cidade era tanto assim? E meus amigos, com suas declarações de ódio? Será que eram tão homofóbicos? Acho que o medo de ver que errei, que eu poderia ter contado antes, que nada teria dado errado é que me impede de contar aos amigos mais próximos que sou gay. Medo de ver que podia ter feito melhor, que meus medos não tinham fundamentos. E continuo errando...


Antes, eu não conhecia nenhum gay pessoalmente. Agora, tenho amigos que são gays, com quem posso compartilhar certos assuntos que só gays entenderiam e, melhor!, já encontrei dois desses amigos pessoalmente [Shinji e Jimmy] e pretendo conhecer muitos outros.

Já dei meu primeiro beijo num cara, mas é nos que virão que estou interessado. Como foi boa a sensação de ver dois caras, lá na Bubu, se beijando, ao vivo e a cores, e não numa tela de um computador, em filmes pornôs ou seriados. Era ao vivo, e eu poderia também. Não foi o que eu esperava, mas esperar o que mais? Pode-se viver com pouco. Ou mais, se a vida me permitir.

E as cenouras? Quantas será que não comi ou recusei!? E continuo andando, sim, caminhando pelas estradas, sempre comendo as cenouras penduradas na vara de pescar. Um burrinho seguindo seu caminho. Seguindo em frente. Tropeçando e caindo. E relatando, vejam só!, tudo isso num blog! Isso que é modernidade! Burrinho ou não, comendo cenouras ou não, a corrente do rio segue em frente.


Muito obrigado a todos os meu amigos, leitores ou não. Agradeço do mesmo jeito.

Abraços!

10 comentários:

Jimmy disse...

lindo o post, Edu!
to com tanta saudades de vc ...
acho que te ligo qualquer dia desses só pra gente se falar :)
beijo!
PS: apesar de vc não ser do seu feitio elogiar, gostei de saber que mereço "todos" os elogios. hehe. fiquei me achando XD

FOXX disse...

adorei a metáfora do burrinho e as cenouras...

além de lindo, é inteligente!!1

Jonatas Oliveira disse...

Pôxa, Edú!

Lindo o texto!!!

Cara... sem palavras!

Espero estarmos sempre juntos, msm virtualmente!

Grande abraço... e em breve eu tbm saio dessa cidadezinha hipócrita que moro hj!!!

Abração!!!!

:D

Anônimo disse...

Nó, se vc se sente um velho aos 17, como me sinto eu, que faço 27 amanhã? risos!
Mas adorei o texto e todas as metáforas.
Abraço

Anônimo disse...

Como não tem atualização, deixo meu abraço

www.confissoesaesmo.wordpress.com

Thiago de Assumpção disse...

putz... dois anos.. e muita coisa cara...

Anônimo disse...

Ai ai, rs...

Anônimo disse...

Olá, edu é o júnior, lembra de mim?
Estou com saudades, pq não fala mais comigo...?!
Tenho novidades, me mande um mensagem e eu te conto tudo...
Está tudo bem com você?
Tenho saudades eternas de você...
Me escreva...
Não me esqueça tá....Preciso de você.
meu e-mails é: junioresquecidoprecisadevoce@hotmail.com
Olha, espero que você me responda, pois estou ficando até doente....
Até mais e Que os deuses iluminem o seu caminho...
Abraços e desculpe me por alguma coisa...estou meio nervoso...
Até...
Aguardo respostas....

Latinha disse...

Se você já está velho eu não sei, mas é que muito legal vê-lo crescer... ah! isso é!!!

Belo texto...

Grande semana!

Srtª Amora disse...

é Eduardo (será o nome do meu primeiro filho) o ser humano só vive em paz quando se encontra e encontra sentido pra viver, e isso em qualquer área, profissional, familiar, e sexual...
boa sorte filho.
mt sucesso e não se preocupe em errar a vida é feita disso.
bjok!